Tuxás

Mestre Roque conseguiu manter seu povo nos costumes e na língua nativa, ensinou às suas três filhas a língua Zubucuá e o Tupi. Dos quatro mil índios, apenas as três irmãs Tuxás falam a língua: a Cacique Anália, a Pajé Analice e a índia Rosângela. Depois de uma longa peregrinação o povo Tuxá começa a se organizar em Minas Gerais, buscando um lugar para implantar sua aldeia. Articulam-se com a Terra Indígena Kiniopara, Aldeia Morrinhos, em seguida ampliam suas articulações com outros povos indígenas em Minas Gerais. Com os Xakriabá e com o CIMI, passam a integrar a APOINME, contando com o apoio de Manoel Uilton Tuxá, protagonista para o reconhecimento no Estado de Minas Gerais. Finalmente, após estudos antropológicos, a Funai os reconhece como Povo Tuxá. (CAA/NM, 2017, pgs 2 e 3).

Da guerra e do genocídio impostos aos índios desde o período colonial, os Xakriabá figuravam como os únicos remanescentes indígenas no Norte de Minas até anos recentes. Os Xakriabá sempre mantiveram contato com a sociedade envolvente, em particular também com os chegantes que buscavam pouso e que com eles compartilhavam a mesma lógica sobre o ficar no lugar, com estabelecimento de vínculos entre os não brancos.

No entanto, um grupo indígena do Povo Tuxá, originário da Ilha da Viúva, município de Rodelas (BA), migrou para Pirapora no final dos anos 1950 e, em 1997, resolveu sair da invisibilidade. Foi quando passaram a perseguir um sonho do pajé Mestre Roque Moisés, a busca de um território que pudesse abrigar as 60 famílias remanescentes dos Tuxá que estavam vivendo de forma dispersa em Minas Gerais. 

Não é possível ignorar a grande importância de Mestre Roque para a sobrevivência do povo Tuxá e de sua cultura. Travando uma longa história de luta em defesa de sua identidade e modo de vida e contra a perseguição e avanços do capitalismo predatório sobre os territórios, Mestre Roque encarna um sonho de liberdade e autonomia, que é compartilhado com demais remanescentes do povo Tuxá. Assim, e com o apoio e participação de sua família, ele consegue manter os costumes e a língua nativa de seu povo. A partir da movimentação de suas filhas, conseguiram o reconhecimento da indianidade pela FUNAI. Desde então os Tuxás vêm se movimentando, articulando com os outros povos indígenas, com as comunidades tradicionais no Norte de Minas, como estratégia de fortalecer a luta pelos seus direitos e pela homologação de sua terra. 

Para compreender melhor a história de Mestre Roque, acesse: Mestre Roque Moisés – Os Brasis e suas Memorias

Escutando os encantados, eles foram encaminhados para as margens do rio Paracatu, nas proximidades da foz com o rio São Francisco, local que eles já frequentavam há algum tempo para a pesca e coleta extrativista relacionada com a medicina indígena. Foi quando articularam a ocupação da antiga fazenda Santo Antônio, no dia 20 de novembro de 2015, com 135 pessoas e apoio da Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais, do Movimento Geraizeiro, do Povo Xakriabá, dos Tuxás da Bahia, do CIMI e do CAA.

“Nós, povo indíegana Tuxá Setsor Bragagá, com o apoio da Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais do Norte de Minas, Povo Indígena Xakriabá, Tuxá Kiniopará de Ibotirama/BA, Pataxó, Pankararu, Movimento Geraizeiro, NASCER (Núcleo de Agricultura Sustentável do Cerrado), e outros povos, vimos através deste, informar que estamos ocupando desde as 10:00 horas do dia 20 de novembro de 2015 a fazenda Santo Antônio, localizada próximo ao distrito de Cachoeira da Manteiga, município de Buritizeiro/MG.” Nota oficial Tuxá Set Sor Bragagá acerca da ocupação da fazendo Santo Antônio. A nota pode ser lida na íntegra aqui: Indígenas Tuxá ocupam território em Buritizeiro-MG (caa.org.br)

Como índios das águas e das terras ribeirinhas, a memória, os conhecimentos e a sabedoria tradicional foram acionados para o reconhecimento do território, de suas potencialidades e das possibilidades de aí fincarem suas raízes. Havia a expectativa que se fizesse o reconhecimento de mais de cinco séculos de violência societária estabelecida contra os povos indígenas brasileiros.

Com a ocupação, passaram a negociar com o governo de Minas Gerais o reconhecimento da área como Terra Indígena Tuxá. A área ocupada é uma propriedade de 6.525 hectares, antiga fazenda ocupada com o plantio de eucalipto. A fazenda foi repassada para o estado como pagamento de dívida da empresa. O Estado de Minas Gerais fez o repasse da fazenda à Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais – EPAMIG, com a proposta de instalação de um campo de pesquisa agropecuária, o que não se viabilizou. Desde o repasse para o Estado, a propriedade vinha sendo explorada de forma indevida e abusiva pelos responsáveis pela sua guarda. Relatos dos moradores locais afirmam a exploração das áreas de pastagem, arrendadas para terceiros de forma irregular, e a exploração ilegal de madeira. 

A área ocupada pelos Tuxá encontra-se às margens do rio Paracatu, considerado o quinto maior afluente do rio São Francisco em termos de contribuição hídrica. A Bacia do rio Paracatu encontra-se sob forte pressão ambiental em função das frentes de desmatamento da vegetação nativa. Os dados do levantamento da vegetação nativa apontam que 48% da vegetação já foi alterada na bacia. O cenário que se vê ao fazer a viagem até a área ocupada pelo Povo Tuxá serve de alerta: é visível o processo de degradação ambiental em uma das áreas que, até meados dos anos 1980, era tida como um dos últimos remanescentes da formação vegetal conhecida como Cerradão nessa porção do território do estado de Minas Gerais.

E os riscos não param aí, pois os moradores informam também que muitas das terras que existem nas proximidades da Terra Indígena Tuxá, estão sendo adquiridas por grandes empresas interessadas em fazer plantios de grandes monoculturas de eucalipto ou de outras lavouras. E que o desmatamento cresceu muito nos últimos anos. O levantamento apontou que cerca de 140 mil ha do entorno estão ocupadas por fazendas e empresas de monoculturas do eucalipto. Mas que existe uma área em torno dos 28 mil ha de Terras da Marinha, que podem ser destinadas a famílias de vazanteiros e pescadores do São Francisco. 

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