W d ê p a

Eu vim da raiz da terra
Eu vim para rãkiá

Eu vim da raiz da terra
Eu sou Xakriabá

Sou guerreiro filho de Waptokwa
Eu vim para rãkiá

Canto Xakriabá

A quarenta quilômetros da margem esquerda do Velho Chico, estamos num terço de terra de um todo que nos pertencia em doação feita em 1728. Para uns, em tempos passados, São João dos Índios. Para outros, em seguida, São João das Missões, município onde hoje se encontram os antigos “bons de remo”. Estes, por ironia do destino, estão adentrados no meio do cerrado de grotas secas, distantes das margens férteis do rio São Francisco, donde foram, por ação da expansão da atividade pastoril, expulsos séculos antes – e atualmente é onde se encontram as comunidades dos Xakriabá. Uma faixa de cerrado seca d’água, mas cheia de vida, de saberes múltiplos, de gente aguerrida, hospitaleira, resistente, de ciclos distintos, de cores e sabores, de Embarés (barriguda) em meio à Caatinga e pequizeiros em meio ao Gerais (tabuleiro), diversas aves, diversos animais e muitas plantas medicinais.

No tempo das chuvas, o verde impera, há fartura, pássaros e águas passageiras; em tempos de seca, folhas amarelas forram o chão, poeira e fumaça se fazem presente no sertão. Mas bastam algumas gotas de chuva para as árvores se vestirem de brotos coloridos e animarem a população a semear sementes crioulas pelo chão. Cada ciclo que chega traz consigo saudades do outro ciclo que se foi, saudades dessa metamorfose que é o bioma dessa região.

Etnovisão – Edgar Kanaykõ Xakriabá

Distribuídas em 40 aldeias no interior da Terra Indígena Xakriabá, famílias ancestrais de muita resistência, lutas e conquistas. Gente que pinta seus corpos com urucum ou jenipapo, que tem na força da espiritualidade, no respeito aos mais velhos e encantados, conseguido resistir às pressões do colonizador até os dias atuais.  Povo do segredo da ciência, da coletividade, das retomadas territoriais e culturais, de muitas artes, do respeito ao luto e de consulta à organização interna dos seus líderes.

Da agricultura familiar e do extrativismo conseguem parte dos alimentos. Na educação escolar diferenciada são fortalecidas as práticas tradicionais, a noção de pertencimento étnico e a ideia de se ter sempre um pé na aldeia e o outro pé no mundo, não se esquecendo da mãe terra nem dos saberes tradicionais e de nada do que é nosso.

Autor: Nei Leite Xakriabá