(Gerais) pra mim, acho que vai de acordo com a região, com o clima, e com as montanhas e altitudes também. […] Tudo isso já traz um diferenciado pra ter esse nome de gerais. Porque quando se trata de gerais, trata-se de uma forma em geral. Onde abrange tanto cultura, como natureza, ar, então acho que nesse contexto é o gerais, néh. (Sr. Nelcino, Com. Pau D’arco-Retiro)
No norte e noroeste de Minas, como também no oeste da Bahia, o termo GERAIS é usado para caracterizar as regiões de topo de serra, planaltos, encostas, veredas e vales dominados pelo bioma de cerrado e suas diversas fitofisionomias.
As altitudes, o clima, as montanhas, os conhecimentos e saberes de apropriação dos recursos naturais dessas paisagens são elementos presentes na descrição e caracterização dos gerais. O cerrado é plano e os gerais são montanhosos. Para ser gerais é preciso ter cultura (atividades agrícolas e valores) relacionada às diferentes naturezas. O Gerais ultrapassa a identidade do Cerrado apenas como um bioma e atinge a relação humana e ecológica.
Os grupos sociais que ocupam estas regiões são denominados de geraizeiros, povo tradicional que carregam em si um conjunto de valores culturais, saberes ambientais e tradições coletivas, que os distinguem e contrastam com o “outro”, como os povos da caatinga, seja pelo modo de vida, seja pela relação com os diferentes ecossistemas. São portadores de valores, práticas e princípios que contribuíram para superar, ao longo dos séculos de formação da sua identidade, os paradigmas dominantes da exclusão em que viviam.
[…] antes geraizeiro era só nós, mas gerais é muitos lugares. Geraizeiro continua não sabendo. Era um preconceito…gente achava que era, mas descobrir que não era. Gerais são vários gerais, tem mais de um. (Ivanice, Pau D‘arco/Sto.Antonio do Retiro)
Os geraizeiros possuem uma identidade distinta por sua fluidez e movimento, em um processo de constante ressignificação. Formada também a partir da resistência aos avanços do capital agrário empresarial sobre o campo, sua identidade se afirma na defesa e convívio com o território ancestral dos Gerais, composto majoritariamente pelo bioma do Cerrado. Dele, os geraizeiros tiram seu sustento, seu alimento, sua fonte de água e é a partir dele que se fazem suas manifestações culturais, religiosas, seus costumes cotidianos. O povo geraizeiro se organiza em pequenas propriedades rurais e áreas comunitárias de plantio, convívio, sociabilidade e religiosidade. Se colocam a partir das relações familiares dentro de cada comunidade e nas formas como elas se articulam e dialogam, nos convívios cotidianos e no planejamento de ações políticas organizadas pelo Movimento Geraizeiro.
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Galpão de armazenamento e envasamento de cachaça da cooperativa Coopercachaça.Em frente dos tonéis de 200 e 100 mil litros, Gilmar P. Freitas, presidente da cooperativa e Orlando dos Santos, liderança do Movimento Geraizeiro. Foto de Sara Gehren
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Na loja de vendas da cooperativa, vemos a diversidade de cachaças que produzem. Foto de Mariella Paulino
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Galpão de armazenamento e envasamento de cachaça da cooperativa Coopercachaça. Orlando dos Santos, liderança do movimento geraizeiro, tira uma prova para degustação. Foto de Sara Gehren
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Galpão de armazenamento e envasamento de cachaça da cooperativa Coopercachaça. A diversidade de cachaças produzidas pela cooperativa disponível para degustação. Foto de Mariella Paulino
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Galpão de armazenamento e envasamento de cachaça da cooperativa Coopercachaça. Cachaças disponíveis para degustação e o mapa de indicação de procedência ao fundo, Foto de Sara Gehren
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Mapa de indicação de procedência da cachaça Terra de Ouro. Foto de Mariella Paulino
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Galpão de armazenamento e envasamento de cachaça da cooperativa Coopercachaça. Tóneis de 200 mil, 100 mil e 100 litros. Foto de Sara Gehren
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Tonéis de 100 litros no galpão de armazenamento e envasamento de cachaça da cooperativa Coopercachaça. Foto de Sara Gehren
Um símbolo da identidade mineira sem dúvidas é a cachaça, e o Norte de Minas é referência neste campo. A cachaça geraizeira “Terra de Ouro” é da Coopercachaça, que é uma cooperativa de agricultores familiares geraizeiros, localizada nos municípios de Novorizonte e Salinas que, a partir de um conjunto de técnicas para uma produção de cana sustentável e ecológica, produzem diversos tipos de cachaça.
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Coleta de pequi no maior pequizeiro do mundo, conhecido como “Pequizeirão”, localizado na RDS – Reserva de Desenvolvimento Sustentável – que abrange 3 municípios, Montezuma, Vargem Grande do Rio Pardo e Rio Pardo de Minas. Foto de Leo Lopes/Macaca Filmes
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Trabalho coletivo de coleta de pequi no maior pequizeiro do mundo, conhecido como ”Pequizeirão”, localizado na RDS – Reserva de Desenvolvimento Sustentável – que abrange 3 municípios, Montezuma, Vargem Grande do Rio Pardo e Rio Pardo de Minas. Foto de Leo Lopes/Macaca Filmes
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Coleta de pequi no maior pequizeiro do mundo, conhecido como “Pequizeirão”, localizado na RDS – Reserva de Desenvolvimento Sustentável – que abrange 3 municípios, Montezuma, Vargem Grande do Rio Pardo e Rio Pardo de Minas. Foto de Leo Lopes/Macaca Filmes
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Foto de Leo Lopes/Macaca Filmes
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Foto de Leo Lopes/Macaca Filmes
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Helena cozinhando o pequi para extrair o óleo. Helena Germano dos Santos é geraizeira produtora de óleo de pequi, moradora da comunidade Sítio do Meio, no município de Vargem Grande do Rio Pardo. Foto de Luciano Dayrell
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Helena Germano dos Santos é geraizeira produtora de óleo de pequi, moradora da comunidade Sítio do Meio, no município de Vargem Grande do Rio Pardo. Foto de Luciano Dayrell
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Pequi cozido, descansado por uns dias, pronto para ser batido no tacho onde sua polpa é extraída para voltar ao fogo e extrair o óleo. Produção da casa de Helena Germano dos Santos é geraizeira produtora de óleo de pequi, moradora da comunidade Sítio do Meio. Foto de Luciano Dayrell
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Pequi sendo batido no tacho para extração da polpa de pequi. Foto de Luciano Dayrell
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Detalhe do pequi sendo batido no tacho para extração da polpa de pequi. Produção da casa de Helena Germano dos Santos é geraizeira produtora de óleo de pequi, moradora da comunidade Sítio do Meio. Foto de Luciano Dayrell
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Polpa de pequi recém extraída. Ela ainda será fervida e coada algumas vezes até finalmente termos óleo de pequi. Produção da casa de Helena Germano dos Santos é geraizeira produtora de óleo de pequi, moradora da comunidade Sítio do Meio. Foto de Luciano Dayrell
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Óleo de pequi envasado pronto para ser consumido ou comercializado. Produção da casa de Helena Germano dos Santos é geraizeira produtora de óleo de pequi, moradora da comunidade Sítio do Meio. Foto de Luciano Dayrell
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A Luta Geraizeira
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Bandeira do Movimento Geraizeiro, fundado em 2012. Foto de Sara Gehren
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A Conferência Geraizeira, de janeiro de 2007, tinha como uma de suas pautas a extinção da PEC 75/04 de terras devolutas. Foto de Acervo CAA
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Durante a Conferência Geraizeira, em janeiro de 2007, geraizeiros se reúnem em torno do maior Pequizeiro do mundo, o chamado “Pequizeirão”. Foto de Acervo CAA
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Durante a Conferência Geraizeira, em janeiro de 2007, geraizeiros se reúnem em torno do maior Pequizeiro do mundo, o chamado “Pequizeirão”. Foto de Acervo CAA
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3° Conferência Geraizeira realizada em setembro de 2007, em Vereda Funda, Rio Pardo de Minas, MG. Foto de Elisa Cotta
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3° Conferência Geraizeira realizada em setembro de 2007, em Vereda Funda, Rio Pardo de Minas, MG. Foto de Elisa Cotta
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3° Conferência Geraizeira realizada em setembro de 2007, em Vereda Funda, Rio Pardo de Minas, MG. Foto de Elisa Cotta
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Em agosto de 2015, o Movimento Geraizeiro, junto de outros representantes dos povos tradicionais de MG, participou da audiência pública da Comissão da Verdade, na Câmara Municipal de Montes Claros, que tinha como objetivo escutar as vítimas da ditadura no Norte de Minas Fotos de Ana Mendes
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O Movimento Geraizeiro compareceu a reunião da Articulação Rosalino, em agosto de 2015, na FETAEMG, Montes Claros, Minas Gerais. Foto de Ana Mendes
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A reunião teve como objetivo a discussão do projeto de monitoramento do plano de agrobiodiversidade e contou também com a presença dos povos tradicionais geraizeiros, apanhadores de flor, vazanteiros, indígenas e quilombolas. Foto de Valda Nogueira
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Lourdes Francisco, moradora da comunidade geraizeira de São Lourença, é uma das grandes referências na luta do movimento geraizeiro. Seus pais foram desaparecidos na ditadura e nunca os encontrou. Fez a retomada do seu território totalmente por conta própria, acampando sozinha por dias e noites. Lourdes compareceu a manifestação pelo Fora Bolsonaro, em julho de 2021, no Vale das Cancelas. Foto de Sara Gehren
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Movimento Geraizeiro somando forças no ato contra o governo Bolsonaro, realizado em julho de 2021, no Vale de Cancelas, na BR 251, Norte de Minas. Foi a primeira vez que os Povos e Comunidades Tradicionais do Norte de Minas se organizaram em união ao movimento nacional e internacional pelo Fora Bolsonaro. A manifestação uniu várias organizações: Movimento Geraizeiro, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE), Sindicato de Trabalhadores Rurais de Taiobeiras (STR) e os mandatos coletivos de Leninha e Padre João, ambos do Partido do Trabalhadores (PT). Foto de Sara Gehren
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As Conferências Geraizeiras são parte das estratégias que as comunidades adotaram para determinar as pautas da luta política no enfrentamento ao capital agrário e na defesa do meio ambiente. A primeira conferência ocorreu em 2006, um ano antes do governo federal reconhecer os geraizeiros como povos tradicionais, através do Decreto nº 6.040, parte da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Em 2012, como desdobramento dessa mobilização que vinha ocorrendo, os geraizeiros fundaram o Movimento Geraizeiro, cuja missão é a luta pelo reconhecimento e valorização social dos geraizeiros enquanto guardiões do Cerrado contra os interesses do capital, por meio da reconquista, ocupação, defesa e gestão de seus territórios, do fortalecimento da identidade, educação e cultura geraizeira em toda a sua diversidade, de modo a garantir vida digna, o desenvolvimento e a autonomia de suas comunidades, no pleno exercício dos direitos humanos. Nessa perspectiva, tem ainda por intuito promover a solidariedade e união entre as comunidades geraizeiras, na luta por seus territórios e culturas, bem como estimular a produção sustentável de alimentos saudáveis e fomentar a medicina popular geraizeira, por meio do manejo agroecológico e agroextrativista.
Uma das grandes motivações para a necessidade de se organizar politicamente é a luta pela preservação da água no Cerrado, bioma conhecido como “caixa d’água do Brasil”, por sua concentração de importantes nascentes que beneficiam oito das doze grandes bacias hidrográficas do país. Esta relevante configuração sofre sob os avanços, na região do norte mineiro, da monocultura de eucalipto e dos projetos de mineração de ouro e ferro. Em menos de 50 anos, o Cerrado já perdeu quase 50% de sua vegetação original, desencadeando no secamento de nascentes e severos desequilíbrios hídricos nos rios que abastece. Vendo este processo de devastação de perto, os povos geraizeiros colocam a defesa das águas como questão central em sua luta, com conquistas importantes que permitiram a sobrevivência de suas nascentes, mesmo em tempos de seca nas cidades.
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O Cerrado e a água se misturam, são forças de uma natureza só. Os geraizeiros do Sobrado sabem disso pois essa imagem é da nascente Caiçara, uma das várias nascentes que são preservadas pela comunidade. Comunidade Geraizeira Sobrado – Rio Pardo de Minas, MG. Foto de Breno Lima
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José Ferreira do Nascimento, conhecido como Zé Sabiá, mostra a barragem feita pela comunidade do Sobrado próximo às nascentes preservadas. Comunidade Geraizeira Sobrado – Rio Pardo de Minas, MG. Foto de Sara Gehren
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A barragem Caiçara fica na Reserva Comunitária do Nogueira e Caiçara, uma área autodemarcada e reconhecida pelo Estado de Minas Gerais como comunidade tradicional geraizeira e premiada pelo BNDES por seu trabalho de preservação. Comunidade Geraizeira Sobrado – Rio Pardo de Minas, MG. Foto de Breno Lima
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Canos que saem da barragem Caiçara levando água para as famílias da comunidade de Sobrado. Comunidade Geraizeira Sobrado – Rio Pardo de Minas, MG. Foto de Breno Lima.
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Toda a estrutura de encanamento da água que chega até as casas da comunidade é feita e cuidada pelos próprios moradores. Comunidade Geraizeira Sobrado – Rio Pardo de Minas, MG. Foto de Sara Gehren
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A caminho da nascente caiçara, uma das barragens para abastecimento de água da comunidade. José, 47 anos, morador da comunidade Sobrado, liderança e guia na RDS. Foto Sara Gehren
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Nascente Santana. Homens da comunidade voluntariamente limpam a barragem próxima a nascente depois de perceberem que água nas casas está caindo fraca. Comunidade Geraizeira Água Boa II – Rio Pardo de Minas, MG. Foto de Sara Gehren
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Nascente Santana. Deca bebe água num copo feito de folha. Comunidade Geraizeira Água Boa II – Rio Pardo de Minas, MG. Foto de Sara Gehren
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Deca na nascente Santana. Comunidade Geraizeira Água Boa II – Rio Pardo de Minas, MG. Foto de Breno Lima
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A história de luta do povo geraizeiro já apresenta muitas vitórias, a despeito dos enormes obstáculos políticos e econômicos que enfrentam. O reconhecimento de sua identidade, a proteção de seus territórios e a demarcação autônoma de suas terras, com reconhecimento do poder público, são algumas delas. Tudo isso é fruto da inventividade e flexibilidade das comunidades em dialogar com os canais institucionais do Estado e, ao mesmo tempo, realizar ações com suas próprias mãos.
Uma das mais importantes lutas travadas pelo povo geraizeiro se deu nas comunidades que vivem entre os municípios de Rio Pardo de Minas, Montezuma e Vargem Grande do Rio Pardo. Organizados e utilizando-se de sua identidade e fé, as comunidades que lá estão resistiram por mais de 30 anos contra o avanço das monoculturas de eucalipto e, agora, contra a mineração que ameaça tragar suas terras.
Na luta pelo reconhecimento de seus territórios tradicionais, mulheres, crianças e homens fazem a linha de frente de defesa de seu bioma, policiam e cuidam de um vasto território que vai desde o Areião, passando por Riacho de Areia, Roça do Mato, Vale do Guará até Vargem do Salinas, região de onde sempre viveram.
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Altar com imagem de Nossa Senhora no caminho da Romaria do Areião – Foto de Breno Lima
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Vista da pedra com imagem de Nossa Senhora para o cerrado no caminho da Romaria do Areião – Foto de Breno Lima
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Início da Romaria dos povos para o Areião em 2009. Foto de Luciano Dayrell
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Início da Romaria dos povos para o Areião em 2019. Foto de Valdir Dias
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Imagem de Cristo que abençoa os caminhantes da Romaria do Areião. Foto de Valdir Dias.
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Romaria Rumo Ao Areião é uma tradicição das comunidades Geraizeiras que é realizada na comunidade Água Boa II no município de Rio Pardo de Minas/MG. Realizada no dia de São Francisco de Assis, santo patrono da Natureza. A Romaria é um ato de celebração de luta e religiosidade da comunidade que lutou para proteger seu território e a chapada do areião.
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Imagem de Nossa Senhora no alto do cerrado. Foto de Sara Gehren.
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Caminhantes da Romaria rumo ao Areião. Foto de Valdir Dias.
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A geraizeira Ritinha com um cartaz sobre a conscientização quanto ao risco do uso de agrotóxico. Foto do acervo CAA-NM.
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Primeiro altar construído no Areião em 2010, dedicado a São Francisco. Foto de Luciano Dayrell.
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Povos tradicionais reunidos em culto no Areião. Foto de Luciano Dayrell.
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Altar atual no Areião dedicado a São Francisco. Foto de Sara Gehren
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Interior do altar no Areião dedicado a São Francisco. Foto de Sara Gehren.
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Bênção ao cerrado e seus frutos que são fonte de vida para os povos geraizeiros. Foto de Valdir Dias.
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Povos tradicionais reunidos em torno do altar de São Francisco no Areião. Foto de Valdir Dias.
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As crianças participam da Romaria desde cedo, o festejo também é lugar de formação e conhecimento. Foto de Valdir Dias.
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Escultura com imagem de São Francisco no Areião. Foto de Sara Gehren
A mobilização tinha como objetivo a criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), que é proposta como uma garantia legal de preservação de seus territórios e do modo de vida geraizeiro. A oficialização em 2014 do que se tornou a RDS Nascentes Geraizeiras, a primeira RDS geraizeira, mostra os frutos de toda a mobilização e organização das comunidades da região em nome da proteção e do uso coletivo do território.
Para os geraizeiros, o território do Areião tem um sentido místico e religioso, e o filme Romaria do Areião conta a caminhada dessas populações e de suas crenças rumo a um mundo que acreditam.
Pesquisadores:
João Marques Chiles
Comunidade Geraizeira do Pau D’Arco