De Nativos e de Caboclos: reconfiguração do poder de representação de comunidades que lutam pelo lugar
Autor(a)
DAYRELL, Carlos
Resumo
Analiso a movimentação de povos e comunidades tradicionais que vivem no Norte de Minas
e na Serra do Espinhaço meridional da região de Diamantina, que na luta pelo reconhecimento
e pelo direito territorial, constituíram em suas estratégias de resistência e de
reposicionamento um movimento social denominado Articulação Rosalino Gomes de Povos
Tradicionais. Abordo o seu surgimento a partir de antecedentes que fui buscar elegendo
personagens e contextos da história regional ambientada nos últimos cem
anos. Denomino esses personagens que opuseram resistência ao mandonismo e à expropriação
territorial, cada um em sua época, como insurgentes nativos. Verifico a emergência da
Articulação Rosalino em um contexto de hegemonia das elites dirigentes locais e regional
associadas à modernização da região. A partir de um “pacto etnográfico” estabelecido entre
mim e as “antenas” da Articulação Rosalino, em uma pesquisa colaborativa, fui em busca da
compreensão de como a questão identitária, posta pela Articulação Rosalino entra no debate
sobre o direito à diferença, com o acionamento de outras epistemes como reação à condição de
colonialidade que se mantém na sociedade brasileira e, em particular, na Norte Mineira. Utilizo
da análise situacional para a compreensão de uma série complexa de eventos realizada pela
Articulação Rosalino no exercício do “direito na prática”. Percebo que os processos de
produção de identidades e de afirmação em suas diferenças e tradicionalidades são complexos
e contraditórios, abrangem diferentes formas de se ver e se fazer no mundo, acionando valores,
conhecimentos, linguagens e entendimentos próprios. Constato que a luta pelos direitos e pelo
reconhecimento promovida pelas comunidades, que se reafirmam como tradicionais e, em
seguida, como “povos”, repercutem não apenas na reconfiguração de seus poderes de
representação, rebelando e acionando distintas estratégias de recuperação ou proteção de seus
territórios contra as seguidas tentativas de confinamento e de encurralamento territorial. Vão
mais além, promovem insurgências que entram na disputa ontológica por um outro viver.
Acionam diferentes estratégias para manterem suas vidas no lugar, sem abrir mão de intervir
em espaços mais amplos, como partícipes atuantes de diálogos civilizacionais.
Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
Tipo de Arquivo
Publicação acadêmica - Tese de Doutorado
Anexos
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